08 novembro, 2008

Moral da História.... (Mediunidade de transporte - Parte 4)

Saí da gira aliviada e com a sensação clara de que eu tinha realizado bem uma tarefa.

Além de ter revisto todos os meus conceitos acerca da espiritualidade. Eu que sempre julguei meio "conto da carochinha" o que os escritores espiritualistas redigem, passo a acreditar depois de ver e experiênciar o que acabei de narrar.

O que deveria ser um susto me serviu de lição, e no final eu agradeço a Deus por ter me concedido essa tarefa tão bonita!

Existem espíritos que se alienam em meio tanta dor e rancor, como este, morto desde 47 e só agora é levado a tratamento. Penso em quantas pessoas não passarão mais por todo tormento que passei com esse espírito por perto. Encaminhar este espírito é livrar as pessoas da terra de mais um obcessor. E no final me senti honrada de poder ter cumprido bem a minha parte nessa tarefa tão nobre.

Com certeza, eu que temia os EXUS como seres terríveis, hoje agradeço a eles por terem me ajudado nessa tarefa. E noto que muita coisa não poderia ser feita sem a presença desses guardiões. A diferença entre ler uma coisa assim em um livro e experienciar é gritante.

Cabe a mim, agora, me reservar um certo resguardo após essa experiência. Cuidar e me proteger por um tempo, pois sei que essa foi só uma etapa e o caso não está resolvido por completo. Mas torço para que o pessoal do outro lado consiga êxito nessa empreitada.

Essa segunda, levarei os dados para a mesa, e rezarei junto aos outros médiuns para que esse espírito consiga se recuperar para continuar a trilhar sua jornada, sabe-se lá onde....

**************FIM*****************

Mediunidade de Transporte - Parte 3 - A gira de EXU

Na sexta feira eu estava tão exausta que andar de um cômodo a outro da casa era um suplício! Mas eu precisava estar bem para a Gira de Exu, até porque sabia que eles me ajudariam a resolver o caso.

Comi alguma coisa forçada, pois não tinha fome. Nem passei a roupa do centro tamanho o desânimo. Tomei meu banho de ervas e saí, tomando um táxi até lá, pois não aguentaria andar....

Contei o acontecido a minha madrinha que falou para que eu levasse os dados do cara na segunda para a mesa.

Me troquei para começar a gira que, eu sabia, não seria fácil.

A gira começou e de cara veio o caboclo quimbandeiro me limpar e em seguida a cabocla, que descobri ser de Iansã. Ela me rodou tanto que os demais médiuns ficaram preocupados. O resto da primeira parte da gira seguiu normal.

Na segunda parte, gira de Exu, é que a coisa ficou complicada. Minha Pomba Gira veio, e tava tentando firmar, tentando firmar até que chamou outra Pomba Gira da casa e pediu ajuda em um "trabalho". A Pomba gira aceitou e foram até a tronqueira, conversando: "esse mano precisa de algo mais firme pra seguir" - disse a minha Pomba Gira. "Ele tem muita raiva, ?" - falou a outra. "Raiva de tudo, até de quem quer ajudar" -Respondeu a minha Pomba Gira -" ele tá aqui encostado e não quer ir não".

Coisa de 5 minutos depois desta conversa, eu sinto ele.... ele veio, incorporou e pude notar todo desespero dele em estar ali, e toda a raiva como se tivessem tirando dele a única coisa que lhe restava - a vingança e a liberdade de poder se vingar. Era desesperador o tamanho da dor que aquele sujeito sentia. quando a Pomba Gira (da casa) começou a falar pra ele seguir e a me limpar com pinga, ele começou a berrar. Depois disso eu lembro das coisas de forma remota, lembro que eu caí e não tinha forças pra levantar e que depois de jogarem pinga formando um círculo a minha volta conseguiram tirar aquilo de mim. Meu padrinho me ajudou a levantar, ainda muito tonta do que tinha acontecido, e chamou o meu EXU de cemitério. Este exu a primeira vez que veio eu achei que fosse obcessor, tive medo. Mas desta vez, foi ele quem me limpou e que me recompôs as energias para prosseguir os trabalhos.
Em seguida a Pomba Gira que ajudou veio verificar como eu estava, eu estava melhor, mas ainda atônita e assustada e respondi: "minha Pomba Gira disse que me limparia, agora eu quero ver!"

Coloquei de volta seus grampos e ela veio e pegou a rosa vermelha que eu trouxe pra ela. Dançou riu e foi passando a Rosa em mim da cabeça aos pés. Dançou muito, riu muito, andou muito.... quando vi a rosa estava preta e carcomida. Ela tirou as pétalas ruins e jogou fora, pediu para outra Pomba Gira molhar a rosa com champagne e tornou a me dar passes, e passava a rosa na minha nuca, nas costas, na cabeça no peito e dançava e Ria.... e novamente a rosa estava Preta e carcomida. Ela jogou fora a rosa.

Em seguida, as pessoas da casa distribuem pipoca para que seja feito um descarrego. Ela pegou o seu punhado e passou pelo meu corpo e depois jogou fora, na direção da túia que queimava.

Ainda dançou um pouco mais e depois pediu a Pomba Gira que lavasse as mãos dela para que ela me desse o passe que equilibraria minhas energias. Me deu o passe e se foi, me deixando BEM.

Para encerrar os trabalhos, veio o EXU de cemitério que me levou até a firmeza de Omulú para descarregar o que ainda faltava. Meu padrinho acompanhou ele dando orientações, para limpar tudo e me deixar bem. Quando ele se foi eu estava ótima. Muito melhor do que quando cheguei, parecia que eu tinha perdido 15 quilos de tão leve.

O encerramento da gira foi bem mais leve que pensei que seria e ao vir meu Preto Velho, ele veio rindo, dizendo que eu tinha me saído muito bem! Que era pra que eu me habituasse, porque era para isso que eu estava ali....

PERSEGUIÇÃO - (Mediunidade de Transporte parte 2)

No dia seguinte começou o que seria a novela de uma terrível semana. Ao acordar a primeira coisa que vi foi a foto que me mostraram na mesa. Vi essa foto a tarde na hora do banho e as 5 da tarde tive fraqueza, como na mesa no dia anterior.

Liguei para quem me orienta no terreiro, e me foi aconselhado banho de sal grosso, o que fiz prontamente. Trabalhei com o terço da preta velha ao lado para segurar a situação, mas a toda hora me vinha a imagem da foto.

A noite que se seguiu foi de insônia, investida de uma paranóia da piores. As coisas mais terríveis me passaram pela cabeça em relação ao trabalho e justamente sobre o ponto mais instável dele. Levantei num pulo e decidi que o melhor remédio para me livrar da paranóia era o trabalho. Trabalhei como uma louca até que as 11 da manhã consegui, por meio de um telefonema a um colega de trabalho, perceber que grande parte daqueles pensamentos que me perseguiam eram infundados.

No dia seguinte, que já era aquele dia mesmo, posto que não dormi a noite, saí com alguns amigos e estava fraca, abatida por uma angústia estranha. Mais uma noite sem dormir.

Mas no dia seguinte, eu já estava melhor. Pois ter saído com amigos me fez esquecer um pouco a imagem da foto. Porém na quinta-feira tive novamente fraqueza e insônia. Mas desta vez uma insônia estranha.... Cheia de imagens obscuras.... um homem podre corcunda caminhando no escuro sob a luz da lua, um caminho vazio e frio, gelado e úmido....

Logo em seguida, vejo a minha criança. Ela chegou e sentou, pediu as fitas amarela e branca que usa nos cabelos e ao arrumá-los começou a falar: "ele está querendo encostar, não pode não!" Logo em seguida veio a imagem dela me dando passes com duas margaridas brancas.... e durante o passe, veio o nome deste cara corcunda, que era o mesmo da foto. Veio o nome a data de falecimento e causa morte. Vi imagens da atividade que este homem exercia e a forma como morreu. Um tiro na cabeça enquanto trabalhava numa madrugada.

Ele nunca soube quem era o seu assassino e cheio de raiva começou a perambular buscando vingança... Nessa encostava em qualquer um que julgava ser seu carrasco, e ia trocando e esquecendo e trocando e esquecendo, até que ele era já todo raiva e desejo de vingança sem nem mais saber porque (a imagem deformada que vi).

Me levantei e anotei os dados para levar ao centro na sexta que teria gira de EXU. E a criança continuou com os passes de margaridas até que as 11 da manhã peguei no sono....

Mediunidade de Transporte - Parte 1

Devo começar este post esclarecendo que nunca dei muito crédito a romances espíritas. Mas o que descrevo aqui é uma experiência a qual passei e que me mostrou que o que consta nos romances está muito além de uma boa imaginação daquele que escreve. Esta semana meus pré-conceitos foram postos em cheque de uma maneira como nunca aconteceu e descobri que realmente há muito mais coisas entre o céu e a terra que possa supor nosso ceticismo vão - parafraseando Einstein.

Às segundas-feiras, no centro em que eu inicio essa jornada mediúnica, temos uma seção de mesa de irradiação que precede ao atendimento de consulta com pretos velhos. Neste início de novembro, ao chegar no centro para esta seção recebi a mensagem de meu Preto Velho avisando que eu seria chamada para meu primeiro trabalho. Lógico que não acreditei e não dei bola, pois é de praxe na casa que novos médiuns não trabalhem, apenas desenvolvam e contribuam com a corrente doando energia.

Entrei no centro, fiz minhas firmezas, troquei minha roupa e subi para a abertura dos trabalhos. Todos a postos e feitas as firmezas de abertura da gira, sentamos a mesa para começar os trabalhos. Neste trabalho não há incorporação, mas apenas irradiação e orações e prol de encarnados que necessitem de ajuda e desencarnados que precisem ser orientados.

Mal sentei a mesa e feitas as orações iniciais, senti uma fraqueza estranha e coisa de segundos eu estava em um local onde pessoas de branco caminhavam de um lado a outro. Lembro-me bem de um homem muito gordo, negro do tipo bonachão que estava sentado em um banco. Foi quando me mostraram a foto. Foto de documento, antiga, um homem de uns 40 anos de cabelo com gel e um bigode fino, rosto triangular.... Foi quando eu caí de volta para a mesa e me dei conta que toda a primeira parte da seção de mesa já havia se passado. Abriram a segunda parte, onde as orações são direcionadas a desencarnados e eu fiquei sem entender direito o que tinha acontecido.

Passada a seção, chega a hora das consultas, para quem trabalha atendendo, e de desenvolvimento para nós novatos. Heis que logo de início comento com um amigo meu o ocorrido e ele comenta que já viu o mesmo homem gordo que eu vi. Supus se tratar de algum espírito que trabalha na casa. E para mim essas coisas pareciam ainda loucas demais para serem entendidas, eu e meu ceticismo. Ao ver a conversa, meu padrinho - um caboclo muito bom diga-se de passagem - veio me chamar a atenção e solicitou que eu colocasse meu preto velho em terra. Atendi prontamente.

Ao chegar em terra, pensei que ele me esclareceria o acontecido e de fato esclareceu. O que aconteceu na mesa foi que me chamaram para um trabalho. O homem da foto era um espírito desencarnado em situação complicada que precisava de oração direcionada e que não tinha o seu nome na mesa. Pelo fato de meus guias fazerem este tipo de trabalho, eu fui usada para receber este comunicado e direcionar as minhas orações a este espírito como meio de auxiliar os meus guias e guias da casa.

O Preto Velho, portanto pegou a cruz de sua guia e firmou comigo orações direcionadas a este homem pela imagem da foto que havia ficado em minha cabeça.

Dei o caso como encerrado e nada comentei.

Após os trabalhos percebi minha criança muito próxima, mas não pude dar passagem, pois dias de segunda feira crianças não podem trabalhar. Ainda mais as crianças de médiuns novos. Ser médiun novo no terreiro é ter milhões de olhos de vigia.... rsrsrs

Terminada a seção, fui para casa normalmente, sem dar muita atenção ao que havia ocorrido naquela segunda.

18 outubro, 2008

Se não fosse as Santas Almas eu não sei o que seria....



Eu fui abençoada com dois guias espirituais maravilhosos! Um casalzinho fofo de pretos-velhos que são a base de tudo o que conheço de umbanda hoje.


O velho da linha das almas tem lá seu jeito ríspido, e sabe enfatizar o que eu preciso saber como ninguém. As vezes me gera até certo medo. Mas é com ele que eu aprendo as coisas mais "secretas" de mim mesma. Algumas boas de saber, outras nem tanto... (rs, nem tudo é do jeito que nós queremos).


A velha, a quem homenageio com o título deste blog, foi a primeira das minhas entidades que veio e me ajudou a driblar toooodos os medos iniciais, e que era um grande impecílio ao desenvolvimento.
Minha Preta-Velha, do tercinho azul claro, das águas da cachoeira. Da calma sábia! O contrário de tudo o que acontece comigo....rsrsrs


Bom essa postagem foi só porque me bateu uma vontade enoooorme de falar um pouco deles....




Vai Uma Homenagem:

Preto velho senta no toco
Faz o sinal da cruz
Pede proteção a Zambi
Para os filhos de Jesus
Cada conta do seu rosário
É um filho que ai está

Se não fosse o Preto Velho
Eu não sabia caminhar

Adorei as Almas!!!

Especulações sobre "Xangô do Oriente"


Já tinha um certo tempo que eu vinha encafifada com a história de "Xangô do Oriente".

Tentando entender os porquês de tal terminologia procurei pesquisar, investigar, a tal "Linha do Oriente". Deixo claro, desde já que não me refiro aos Ciganos e nem tampouco aos hindús, mas sim às entidades tradicionais na umbanda (caboclos e pretos-velhos) que acabam usando um "do oriente" no final de seus nomes. O uso do "do Oriente" me intriga ainda mais quando se relacionam aos Orixás. Este é o objetivo maior da minha busca, entender o porque disso.

A primeira parte da busca partiu de uma constatação: geralmente estes guias aparecem em médius cujas coroas tem relação direta ou indireta com o Orixá Oxalá. Essa constatação ficou ainda mais patente quando descobri que um certo caboclo conhecido meu, e que eu sabia apenas que era de Yemanjá com Oxalá, me revelou ser um "caboclo do oriente".

A partir daí comecei a investigar qual relação Oxalá Mantém com o "oriente" a fim de saber se minha "hipótese empírica" tinha razão de ser.

Encontrei por acaso um artigo do Verger
Etnografia religiosa Iorubá e probidade científica que me deu uma LUZ sobre o assunto. O artigo é técnico e chatéééésimo, mas esclarece muito sobre: 1) diferenças entre mito da criação em diferentes tribos africanas; 2) imprecisões e confusões porparte de teóricos anteriores a Verger; 3) Até que ponto diferentes Orixás de diferentes tribos africanas podem ser relacionados (e essa é a parte mais interessante!)

Uma passagem do artigo, em especial, acabou lançando uma luz sobre a minha busca. Cito:

O casal divino dos Fon, do qual um único membro é citado por Bertho, deveria ser Lissa-Mawy, adaptação Fon do casal Orixalá-Yemowo, de Ife. Sabe-se, com efeito, que esse culto (Lissa-Mawy) foi levado da região de Tchetti, habitada pelas Ana ou Ifé, por Na Wangele, a mãe do Rei Tegbessu, e instalado no Bairro Djenna, em Abemé, nos princípior do séc. XVII. Sabemos que entre os Fon (Herskovitz, 1938, v.II:101) Lissa é o elemento masculino, que simboliza o oriente, o dia, o sol e que Mawu é o elemento feminino, que simboliza o ocidente, a noite, a lua. Trata-se de um sistema dualista, mas correspondente, como vimos, ao casal Orixalá-Yemowo (...)

Interessante notar que Lissa corresponde a Orixalá (Oxalá na nossa umbanda) e Mawy corresponde a Yemowo (Iemanjá na nossa umbanda). Perceba também a relação dos elementos "Oriente", Dia (hora de Oxalá) e sol (símbolo de Oxalá).

Bom esse era o "respaldo teórico" que faltava para que eu pudesse tornar minha hipótese verdadeira. Oxalá tem mesmo relação estreita com o Oriente, que, afinal, é onde o sol nasce. E o sol é seu símbolo.

A partir disso pensei: Caboclos do oriente, tem relações estritas com Oxalá (como o caboclo que conheço), então um "Xangô do Oriente" deve ser um Xangô que tem relação estreita com Oxalá. E foi assim que encontrei Airá. Airá não é cultuado na umbanda, apenas em alguns candomblés, ou como um orixá em especial, ou como uma qualidade de Xangô cruzada com Oxalá.
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Um pouco sobre Airá por Reginaldo Prandi e Arnaldo Vallado:

Airá

Em alguns terreiros de candomblé cultua-se um grupo de qualidades de Xangô que recebe o nome de Airá. Também se acredita que Airá seja um orixá diferente de Xangô e que participa de alguns de seus mitos. O mais comum é considerar-se Airá como um Xangô branco. Vejamos algumas das subdivisões de Airá.

Airá Intilé

É o filho rebelde de Obatalá. Airá Intilé foi um filho muito difícil, causando dissabores a Obatalá. Um dia, Obatalá juntou-se a Odudua e ambos decidiram pregar uma reprimenda em Intilé. Estava Intilé na casa de uma de suas amantes, quando os dois velhos passaram à porta e levaram seu cavalo branco. Airá Intilé percebeu o roubo e sabedor que dois velhos o haviam levado seu cavalo predileto, saiu no encalço. Na perseguição encontrou Obatalá e tentou enfrentá-lo. O velho não se fez de rogado, gritou com Intilé, exigindo que se prostrasse diante dele e pedisse sua benção. Pela primeira vez Airá Intilé havia se submetido a alguém. Airá tinha sempre ao pescoço colares de contas vermelhas. Foi então que Obatalá desfez os colares de Airá Intilé e alternou as contas encarnadas com as contas brancas de seus próprios colares. Obatalá entregou a Intilé seu novo colar, vermelho e branco. Daquele dia em diante, toda terra saberia que ele era seu filho. E para terminar o mito, Obatalá fez com que Airá Intilé o levasse de volta a seu palácio pelo rio, carregando-o em suas costas. Nesta qualidade, Airá Intilé dá a seu devoto um ar altivo e de sabedoria, prepotente, equilibrado, intelectual, severo, moralista, decidido.

Airá Ibonã

É considerado o pai do fogo, tanto que na maioria dos terreiros, no mês de junho de cada ano, acontece a fogueira de Airá, rito em que Ibonã dança acompanhado de Iansã, pisando as brasas incandescentes. Conta o mito que Ibonã foi criado por Dadá, que o mimava em tudo o que podia. Não havia um só desejo de Ibonã que Dadá não realizasse. Um dia Dadá surpreendeu Ibonã brincando com as brasas do fogão, que não lhe causavam nenhum dano. Desde então, em todas as festas do povoado, lá estava Airá Ibonã, sempre acompanhado de Iansã, dançando e cantando sobre as brasas escaldantes das fogueiras.

Nessa qualidade, os seguidores de Airá têm espírito jovem, perigoso, violento, intolerante, mas são brincalhões, alegres, gostam de dançar e cantar.

Airá Osi

É o eterno companheiro de Oxaguiã. Um dia, passando Oxaguiã pelas terras onde vivia Airá Osi, despertou no jovem grande entusiasmo por seu porte de guerreiro e vencedor de batalhas. Sem que Oxaguiã se desse conta, Airá trocou suas vestes vermelhas pelas brancas dos guerreiros de Oxaguiã, misturando-se aos soldados do rei de Ejibô. No caminho encontraram inimigos ao que Osi, medroso que era, escondeu-se atrás de uma grande pedra. Oxaguiã observava a disputa do alto de um monte, esperando o momento certo de entrar nela, mas, para sua surpresa, percebeu que um de seus soldados estava de cócoras, escondido atrás da pedra. Sorrateiramente Oxaguiã interpelou seu soldado e para sua surpresa deparou-se com Airá que chorava de medo, implorando seu perdão, por haver enganado o grande guerreiro branco. Oxaguiã, por sua bondade e sabedoria, compadeceu-se de Airá Osi. No entanto, como punição pela mentira de Airá, decidiu que naquele mesmo dia o jovem voltaria à sua terra natal vestindo-se de branco e nunca mais usaria o escarlate, devendo dedicar-se a arte da guerra para poder seguir com ele em suas eternas batalhas.

Os filhos de Airá Osi são considerados jovens guerreiros, lutam pelo que querem, mas as vezes deixam-se enganar pela impetuosidade. São calmos, não tidos a trabalhos intelectuais, são amorosos, alegres e sentimentais.

São muitas as invocações ou qualidades de Xangô, que, como vimos, se juntam às outras tantas de Airá. Em diferentes países e regiões da diáspora africana em que a religião dos orixás sobreviveu e prosperou, há diferentes variantes das qualidades dos orixás, pois cada grupo, geograficamente isolado, ao longo do tempo, acabou por selecionar esta ou aquela passagem mítica do orixá. Muitas foram esquecidas, outras ganharam novos significados. Cada qualidade é representada por diferentes cores e outros atributos, de modo que, pelas vestes, contas e ferramentas, ritmos e danças, é possível identificar a qualidade que está sendo festejada, principalmente no barracão de festas dos terreiros. Não só por esses aspectos, mas também pelas oferendas votivas e pelos animais que são sacrificados em favor da divindade.

O culto se multiplica, o poder de Xangô se expande. Faces diferentes para outras faces. Diz um oriki:

Òlò áwá la wulú

Olodó òlò odó

Oyá walé ni ilè Irá

Sangò walé ni Kosó.

Senhor do som do trovão

Senhor do pilão

Oiá desaparece na terra de Irá

Xangô desaparece na terra de Cossô

Xangô de Oió, Xangô de Cossô. Da África e das América. Xangô é um e é muitos, mas, como indica o sentimento dos devotos, essa multiplicidade pode ser reunida numa só pessoa: Xangô. É o mesmo que dizer, nas palavras de pai Pércio de Xangô, babalorixá do Ilê Alaketu Axé Airá: É tudo Xangô.

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E assim termina minha "aventura" em busca do "Xangô do Oriente". Este "tal" que tantos umbandistas estranham, não é nada mais, nada menos que Airá que deu um "jeitinho" de entrar na Banda....

That's It!!!

=)





02 junho, 2008

Especulações Metafísicas sobre Nanã


Nanã, Orixá da terra, da lama, das águas da chuva e das águas barrentas. Orixá velha relacionada a criação do homem. O homem feito das águas barrentas de Nanã, da lama. Terra para a qual o homem tende a retornar em sua morte (terra representada pelo filho de Nanã, Obaluaiê). Sua cor é a cor roxa. Cor também conhecida nas tradições como a cor relacionada a transmutação. Transmutação dos estados mentais, transmutação do mental para o efetivo. Curiosamente é assim com Nanã..... que transmuta a lama para a forma humana, que gera um filho cuja representação está relacionada a transmutação do homem de volta a terra. Nanã é geração: é ela quem gera o homem e e ela quem gera também a terra para onde o homem retorna. "Tramutação" poderia ser também uma palavra para descrever Nanã. No sincretismo, Nanã é relacionada a N. Sra. Sant'Anna, cuja imagem abarca um manto roxo e uma mulher conduzindo uma menina (Maria, Mãe de Jesus) pelas mãos. Ela é também progênitora e velha, avó de Jesus. Em resumo, Sant'Anna é aquela que torna possível o nascimento de Jesus ao gerar Maria, é a grande Mãe, assim como Nanã. O ato de gerar também pode ser interpretado com um "transmutar". Gerar é trazer a existência algo que não existe. Biologicamente, gerar é transformar a matéria bruta orgânica (esperma e óvulo) em um ser humano particular, distinto dos que já existem. De forma geral, gerar pode ser interpretado como "produzir", "criar".