25 março, 2008

OGUM

Durante anos acreditei que era filha de Ogum. Tenho um carinho e uma afinidade muito grande com esse Orixá!!! Minha história com ele data a minha "descoberta" prática da mediunidade voltada pra umbanda e para os trabalhos de terreiro. Especifico dessa forma, por ter sido um caboclo de Ogum o primeiro a se aproximar de mim. Pois bem, foi numa festa para Ogum, mais ou menos a 11 anos atrás, que quase tive a primeira incorporação.

Eu fugia de terreiro de umbanda, mas tinha uma preta velha na ocasião com quem vez ou outra eu conversava "Vovó Catarina de Angola". Sim, apesar de toda a minha resistência a umbanda, era no colo de uma preta velha que eu encontrava conforto, pois era o único lugar onde eu encontrava compreensão nas coisas que eu via e ninguém mais entendia!!!
Minha mãe frequentava um terreiro de umbanda desde que eu tinha 4 anos de idade. Cresci com ela indo lá, e assim que as "coisas estranhas" começaram a acontecer comigo - alguns meses depois da primeira mestruação no dia seguinte de um eclipse completo da lua - ela me levou, arrastada pelo braço, para dialogar com essa Preta Velha. O intuito dela era mais de "resolver um problema" que de buscar uma orientação. De minha parte, fui cedendo a pressão. Mas foi bom!!! Porque ela não achava nada estranho nas coisas que eu via, notava, pensava....

Ao contrário, ela me fazia notar que eu tinha conhecimentos que não pertenciam a esse plano.
Estranho falar nisso, mas não esqueço do dia em que aos 14 anos saí do centro me sentindo uma idosa. Naquele dia ela me falou que um dia eu estaria no mesmo lugar que a médiun dela. Sentada de branco dando passagem pra entidade trabalhar!!! E que isso era algo que já estava destinado a acontecer muito, mais muito antes de eu nascer, porque era coisa que eu trazia de muito tempo, de um tempo incontável nesse plano!!! Mas aos 14 anos eu já era destinada ao ceticismo, e não levei fé!!! Mesmo sabendo que eu tinha um amigo, que vez ou outra me aparecia e que no dia da festa de Ogum quase incorporou.

Eu morria de medo de incorporaç
ão. Me causava verdadeiro horror pensar que algum outro espírito tomaria o controle do meu corpo.... Na ocasião da festa, comecei a ficar trêmula, suava, os brincos e colares começaram a queimar no meu corpo, fazendo com que eu tirasse tudo! Mas eu não tinha idéia do que estava acontecendo! A Preta Vellha saudou o guia que me acompanhava, o mais estranho é que eu sabia disso. Nessa ocasião eu já estava com 19 anos. Comecei um desenvolvimento onde só ele aparecia e irradiava em mim.... Aos 20 anos abandonei a idéia de desenvolver... Mas em nenhum momento esse caboclo se afastou de mim... eu o chamo de "meu amiguinho".

Agora, novamente, anos depois, foi por causa dele que retomei o desenvolvimento. Passei anos falando que incorporar era algo fora de cogitação, que se eles quisessem falar comigo que arrumassem outro jeito. Pois bem, eles arrumaram.... depois do exu da cachoeira, veio ele usar a intuição. Me fez um pedido, que repetia sem cessar na cabeça... foi esse pedido que me levou a casa onde estou. Chegando a casa, procurei a ajuda de um outro caboclo de Ogum. Minha escolha por aquele guia e não outro estava em uma única razão: Era no ponto daquele Ogum onde eu percebia a vibração do meu guia com mais força!!! E foi assim que começou essa amizade com meu professor a quem tenho imenso respeito e carinho!!!

Para meu pesar, descobri que não sou filha de Ogum algumas semanas depois de ingressar no desenvolvimento. Mas sou afilhada dele!!! Me lembro que um dos momentos mais felizes do início dessa minha nova etapa do desenvolvimento, foi quando numa gira em que eu estava morrendo de medo, percebi a vibração do meu caboclo de Ogum pela primeira vez na nova casa. Foi um momento bonito, muito bonito!!! Tão bonito que até mesmo o caboclo da casa, que me ajudava naquele momento, sorriu pela beleza daquele encontro!!! Porque foi como se por uma pequena fração de segundos eu fizesse uma longa viagem de reencontro a um amigo muito, mas muito antigo. Foi como se eu percebesse um outro tempo que era muito superior aquele breve instante!!! Meu amiguinho sempre se mostrava perto nos momentos em que eu sentia medo, isso me tornava mais segura, e não foi diferente naquele momento. Mas aquela experiência, de revisitar um tempo que não pertencia aquele breve instante, foi uma experiência ímpar em minha vida!!! Experiência que ainda não tive com nenhum outro guia, mesmo agora que a incorporação já não é um mistério e que tantos novos amigos apareceram.

Mesmo não sendo filha de Ogum, é dentro desta energia que eu me sinto em casa!!! É a energia deste Orixá que marca grandes encontros meu com a espiritualidade. Momentos delicados e profundos que são impossíveis de caber em qualquer palavra!!! É a vibração de grandes amigos meus....

É bom poder reviver esses momentos, mesmo
que no instante em que nenhuma palavra é suficiente pra descrevê-los!!!

Salve meu padrinho Ogum! Ogunhê!

Desafios....

Mediunidade é coisa séria. Não se pode brincar, nem tampouco tratar de forma leviana o contato que podemos ter com o outro lado. Sempre que tratamos deste tema, algo muito sério é posto em questão: A nossa cabeça, mente, sanidade mental. Há o lado mágico de ter acesso a algo profundamente misterioso a nós, a coisas belas e sentimentos nobres e puros... mas sem equilíbrio a mediunidade pode gerar um caos...

Por essa razão, assim que as coisas começaram a tomar "forma" cuidei de procurar uma orientação adequada. Caminhei numa busca às cegas, tendo somente minha intuição como guia. Dei sorte, pois na primeira casa que entrei tive uma sensação muito boa! Algo familiar que me lembrava algo longínquo e que me fazia perder noção de tempo e do que eu estava buscando ali. Certa vez, ainda na assistência, demorei a notar que me chamavam e que já tinha chegado a minha vez na consulta!

Devo dizer que encontrei lá um grande amigo, a quem tenho como orientador e professor.

Mas o interessante da história, é que quando comecei o período prévio a entrada efetiva no corpo mediunico da casa, um Preto velho me perguntou o que eu esperava da umbanda. Eu ainda estava tonta com tantas novidades belas, e tantas descobertas impressionantes, não soube responder... e acho que ainda não sei exatamente, mas hoje eu diria àquele preto velho que meu principal objetivo é me entender!!!

Mais interessante nessa jornada, é que a cada dia que passa eu entendo algumas coisas e desentendo tantas outras.... equilíbrio é coisa difícil de adiquirir. No meu caso em especial, tudo acontece em minha mente. Na maior parte das vezes recebo intuições, vozes que falam em minha mente independente de minha vontade. Algumas vezes elas repetem sem cessar até que eu me dê conta do que se passa. Dessas vozes, algumas eu já conheço a origem. Mas ainda desconfio...

Muitas vezes a sensação de estar ficando louca, e o medo são perturbadores.

O segredo dessa sensação, origem e causa única dessa sensação de medo e loucura está na palavrinha que meu professor sempre repete: confiança! Creio que só no momento em que eu me desarmar, e confiar na veracidade das informações que chegam a mim, é que esse equilíbrio será completo!!! Mas como é difícil confiar no que não vemos! Como é complicado distinguir o que vem e o que não vem de nós mesmos!!!

Certa vez um caboclo, muito bom, por sinal, me falou que meu caminho seria ao contrário! Fiquei chocada, perplexa me questionando porque quase tudo na minha vida parece ser ao contrário! A resposta veio da seguinte forma, a mando de uma preta velha: "porque ninguém caminha com a perna do outro." Bom, meu caminho é esse. O equilíbrio esperado depende menos do tratamento dos canais mediúnicos, ou mesmo da afinidade com alguns guias, mas depende única e exclusivamente de mim!!! Tenho que ter auto-controle na minha desconfiança, não deixar que isso me atrapalhe. Tenho que acreditar, ter fé, essa palavrinha que parece tão simples, mas que pra mim é um mistério insondável!!!

Principalmente, tenho que me convencer de que a razão não dá resposta para tudo. Tenho que me convencer de algo que meu coração já sente, mas que minha mente censura: de que há coisas que nenhuma racionalidade alcança e explica, mas que só podem ser sentidas mesmo!!! Eu vivo um duelo diário.... entre o que eu sinto e o que eu penso. entre o que eu percebo e o que eu acho que devo acreditar....

Não sei o que falta, mas pelo menos hoje consigo sentar e fazer essa avaliação. Já é um grande passo!!!




15 março, 2008

A Preta Velha.....

Vovó veio trabalhar comigo com uma missão. E desde que ela chegou minha relação com a mediunidade se tornou mais fácil.... Ainda tem coisas que me confundem, mas estou aprendendo, com a ajuda dela, a lidar com essas coisas....

A característica mais marcante da minha mediunidade é a intuição. Tão forte que posso travar verdadeiros diálogos mentais com esses guias. No início, quem falava comigo era um preto velho. Esse preto velho não pode incorporar agora por ser um espírito muito antigo, que me acompanha faz muito tempo, e é de difícil incorporação.

Por isso a Preta Velha foi encarregada de cuidar de mim nesse início de desenvolvimento, coisa que, diga-se de passagem, faz muito bem. Ela consegue driblar meus medos com leveza, e sacia a minha curiosidade me passando explicações preciosas sobre as coisas!

A primeira vez que a percebi, foi dessa forma: intuição.... Estava eu, na gira quando percebi uma energia muito boa por perto que nunca havia notado. E em seguida percebi um riso, mas de alegria por eu haver notado aquela presença! E logo veio: “ agora falta você saber se sou menino ou menina!”. Isso foi o que percebi logo na primeira vez que consegui dar passagem a essa energia. Era um Preta Velha, muito boa, e que rapidamente conquistou a minha confiança!!!

Como sempre fui freqüentadora assídua de cachoeiras, não foi difícil saber que se tratava de uma Guia na vibração de Oxum. Quando ela ia embora era como se eu tivesse tomado um IMENSO banho de cachoeira..... e foi assim que descobri que a energia dos orixás é a mesma presente nos locais que os representam.

Em resumo, a energia que emana de um orixá é a MESMA que emana do local, e é por isso que aquele local e não outro o representa.

Esse também se tornou uma dos pontos que me fez amar aquela presença.... ter a sensação de cachoeira sem pisar em uma..... Ela me acalma de tal forma que parece que estou fora de rotação. Tudo de repente é mais belo e mais leve quando e depois que estou com ela. Meu “personal lexotan”!

Mas não foi só isso que aconteceu quando a vovó chegou, e nem se resume na questão das energias, o aprendizado que tive com ela.

Todas as vezes que ela vinha, ela sentava pacientemente num banquinho e me dava passes..... Muitos passes em pontos específicos e dizia que “tem que abrir esse canal aqui” e passando a outro local “esse aqui também”. Percebi que os “canais” eram os mesmos pontos indicados como Chakras, mas me foram apresentados de forma muito mais simples que nas milhões de apostilas que baixei sobre o tema. Sem contar, que a prática do desenvolvimento que a vovó começou, me fez entender de forma, igualmente, prática a funcionalidade de cada um dos pontos. Mas sempre, sempre, as explicações vinham de forma simples.

Outra coisa importante também: não demorou que ela me pedisse um rosário, que consegui com muito carinho! E me ensinou a rezar. Eu que nunca cultivei o hábito da oração, sou constantemente “posta de castigo” no banquinho a rezar com ela. Mas mesmo a atividade da oração, que na época da escola de freiras me parecia a mais tortuosa das atividades, ela conseguia tornar leve, cantando vez ou outra um ponto que eu escolhia!

Eu que nunca fui religiosa, rapidamente me apeguei aquele rosário que é hoje o ponto de firmeza e comunicação com essa Velha. É ao rosário a quem recorro quando estou confusa, ou quando as coisas não parecem bem. Vindo de uma ex-cética, essa mudança de conduta é muito radical!

Mas é como costumo dizer: das primeiras coisas que percebi ao ingressar nessa “aventura”, foi uma completa mudança da forma de vida e na forma de ver o mundo.

Saber que posso encontrar oxum na cachoeira, no sentido literal. Saber que a energia que sinto no terreiro posso buscar fora dele! Aprender a rezar! Aprender a olhar os rosários com amor, como um ponto fundamental nessa relação de amizade nova que se estabelece....

Essa amizade é que me faz agradecer todos os dias a esse encontro que tive com a religião, pois ganhei um presente. Um presente belo e valioso e, com certeza, muito mais duradouro que essa vida curta que temos aqui. Pensar nisso me faz mais feliz!

Salve essa Velha gentil e zelosa! Doce como as águas da cachoeira....

06 março, 2008

Descoberta.....




Um dia, enquanto buscava a cachoeira na mata, percebi uma voz. Mas uma voz que só eu podia ouvir. Uma voz que não era minha, mas falava como pensamentos. Reclamava por respeito a mata, por respeito a sua presença. Muita gente passava ali e nem se dava conta de que ele estava ali....

“Ele”? Descobri depois se tratar de um guardião. Um guardião que se tornou um amigo e que me guiava e me auxiliava avisando se a caminhada era aconselhável ou não.

Aqui no Rio de Janeiro, algumas áreas de matas ficam próximas a favelas e são frequentemente usadas como rota de fuga de traficantes. O caminho para a cachoeira não era diferente. Poucas pessoas iam lá em busca de diversão como eu fazia. E dessas poucas pessoas, pouquíssimas iam bem intencionadas como eu. Minha busca pela cachoeira era busca da tranqüilidade. Não era preciso me banhar lá para que tudo se tornasse mais calmo e claro em minha mente.

Algumas poucas vezes eu me banhava em busca de uma proximidade maior com a energia do lugar. Sempre vi as matas como um templo! Sempre notei como se mil olhos me vigiassem, mas não pensava que esses mil olhos fossem reais....

Esse Exu foi o primeiro despertar que tive para esse contato. Não era uma entidade que trabalharia comigo, mas se tornou um amigo zeloso em minhas caminhadas. Depois dele outros habitantes daquela mata se mostraram, mas sem ter a mesma proximidade deste Exu.

Certo dia, ao chegar à cachoeira, pude ver uma bela mulher, com vestido lilás e azul bem escuro.... Cabelos negros cacheados, morena.... Uma bela imagem!!! Entendi naquele momento que a cachoeira tinha dona, e que eu deveria pedir licença para usufruir o que ela podia me trazer de melhor! Semanas depois, um pouco atordoada com questões de trabalho, fugi uma manhã até lá. Pedi muito para que aquelas águas me limpassem e me energizassem, me restaurasse para que eu retornasse a minha casa mais bem disposta ao trabalho! Quando cheguei na queda d’água um belo arco-íris me recebeu! Entendi que meu pedido estava sendo atendido. Me banhei, agradeci e segui meu caminho bem mais leve!

A primeira vez que retornei a cachoeira, já depois de ingressar no desenvolvimento madiúnico e sabendo que essas impressões aqui narradas não são tão triviais quanto parecem, fui recebida por uma bela borboleta que depois de dar 3 voltas ao meu redor quis pousar em mim.... sinal que eu era bem vinda naquele espaço.

Toda essa narrativa, parece de uma simplicidade imensa, não? Parece, muitas vezes que quando enveredamos pelas sendas do espiritualismo, temos que encontrar o fantástico, muitas vezes expressos por teorias sofisticadas e pouco compreensíveis. Muitas vezes não percebemos que este “fantástico” é diário, e acontece nos pequenos detalhes.... O mistério é diário para quem tiver olhos puros para enxergar!!!

Por isso, sigo ao lado da velha de Oxum, que ajuda a clarear meu olhar sobre as coisas.....

Começo

Tudo possui um começo impreciso. É ilusão pensar que cronologicamente podemos alcançar o início das coisas. O que há na realidade é mutação, transfiguração das passagens temporais, épocas e culturas.

É entendendo a ordem das coisas no mundo como transfiguração das imagens impressas na matéria que entenderemos como o amor, surgido entre uma índia e um negro, fez o hábito do negro deitar-se em esteiras nas Senzalas para descansar seu corpo sofrido. E que foi ao deitar sementes à terra em plantação, que o homem fez nascer o louvor ao mistério das coisas.

Quando o índio pode ver a força do negro em resistir pacificamente às humilhações brancas, é que se transfigurou neles o verdadeiro sentido de luta. E foi na compreensão da diversidade e adversidade, que se constituiu o conceito de solidariedade.

Mais ainda, quando o homem compreendeu o mau que pode fazer a si mesmo, independente de cor, cultura ou sexo, é que se instituiu o sentido da caridade!

05 março, 2008

Motivo

Pensei muito antes de montar um Blog para narrar meus passos. O que me motivou foi a vontade de compartilhar todas as coisas maravilhosas que tenho aprendido nos últimos meses.

Tal qual criança, tenho me redescoberto.... Como se em um passe de mágica toda uma realidade velada me tivesse sido mostrada.

Sim, o intuito desse blog é, em certa medida, religioso. Trata-se de fazer o leitor caminhar junto comigo nos primeiros passos que dou no terreiro de umbanda. Antes que alguns torçam o nariz e recriminem, devo alertar que a umbanda é só uma parte, uma parcela do que há de invisível no mundo. Não é a umbanda quem faz o invisível, mas o invisível é quem a torna real, assim como torna reais tantas outras coisas que nos passam desapercebidas cotidianamente. A umbanda é, neste caso, uma questão de escolha. Escolha que reafirmo diariamente ao abrir os olhos, ao caminhar, ao entender que existe muito mais coisas além da religião...

Existe um mistério imenso nas coisas, mistério que se faz na simplicidade dos acontecimentos e das receitas. Na simplicidade das palavras e dos gestos. Na simplicidade do ato de respirar o oxigênio a cada segundo, coisa que fazemos distraidamente, sem nem darmos conta que é isso que nos mantém vivos!

Por isso convido o leitor a caminhar comigo. Assim como caminho junto a minha primeira professora: A velha amorosa de Oxum que inspirou o título esse blog. É ao lado dela que consigo resolver grande parte dos impasses que o caminho mediúnico traz. Perto dela sou um curumim ensaiando caboclo, que sentado nu, na terra batida pelos passos de tanta gente, escuta atento e com olhos curiosos às lendas e histórias de um tempo que se sabe o começo, nem o fim....